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Da vida mais pesada

As pernas já não a sustentavam como antes. E as pausas denunciavam os efeitos do tempo no ritmo da vida, ainda que não fossem perceptíveis a todos



As pernas já não a sustentavam como antes. E as pausas denunciavam os efeitos do tempo no ritmo da vida, ainda que não fossem perceptíveis a todos. Parede já era escora para quem sofria de pulmões fracos desde a infância, mas não a do quintal. Afinal, varrer e aguar as plantas se davam depois de passar o café e antes de colocar as roupas na lavadora. O que havia ali de atípico, não rotineiro, era o cansaço — e não alguma atividade a mais, sem cabimento. O dia só estava mais pesado.


Aos poucos, sem muito conhecimento, sentar-se para mirar o vazio da TV passou a assumir certo imediatismo, mesma urgência com que aspirava uma lufada de ar pela traqueia. E a vizinha que apenas se juntava às grades do portão para três palavras começou a empunhar uma vassoura e uma exagerada disposição para louças.


A conta de luz tem aumentado. A fechadura já pede por algum óleo. Envelhecer era assustador assim: de mansinho, e de repente, ocupava a casa toda.

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