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O Inimigo Principal, de Jorge Sanjinés

Quantos cineastas bolivianos você conhece? E qual Bolívia você vê representada no cinema?


Nove filmes de um dos mais importantes diretores bolivianos estão em cartaz. Jorge Sanjinés já passou dos 50 anos de carreira e foi o primeiro cineasta do país a incorporar as línguas quéchua e aymara nas películas. Dos nove, oito foram restaurados e serão exibidos pela primeira vez nesta que é a maior mostra dedicada a ele já feita no Brasil.


Gratuita, está no CCSP, ali na Vergueiro. É mais uma excelente oportunidade para deseuropeizar nossas referências no cinema e nossa visão de América Latina. Até porque ainda que estejamos familiarizados com filmes chilenos, uruguaios, cubanos ou argentinos (e com Darín também — hehe), o local de onde fala Jorge Sanjinés é totalmente outro. Sua ideia de ‘cinema junto ao povo’ é a de uma estética cinematográfica voltada (e desenvolvida) junto às comunidades andinas.


A cena aqui é de ‘O Inimigo Principal’ (1974). Feito durante o exílio, no Peru, é baseado em fatos reais e retrata o processo de aproximação de guerrilheiros com uma comunidade indígena. Diante da tirania do gamonal Carrilles, de uma justiça que favorece apenas o latifundiário, os camponeses se rebelam com a ajuda da luta guerrilheira.


Está tudo ali. O filme fala de poder e exploração, da questão da terra (chave para entender a América Latina), problematiza os novos brancos que chegam e partem (os jovens guerrilheiros) e aponta para o que seria o ‘inimigo principal’, o imperialismo norte-americano (brechtiano, para além da denúncia vazia).


Acho que neste filme de Sanjinés há algumas cenas simbólicas, como a que retrata a submissão dos camponeses todos armados a dois policiais; outras belíssimas, como a do silêncio da morte depois do clamor pela morte; outra que poderia ser colocada na lista de cenas memoráveis do cinema latino-americano: a do juízo popular, que contou com a espontaneidade dos camponeses que tinham muito de verdadeiro a falar. Para além do cinema, o real, o povo.


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